O relato de verán: O misterioso cavalheiro (IV)

—Cala, hóstia! Deixa-me pensar! Berrei eu, encabronada. ―Vermelho… amarelo… vermelho… amarelo!!! Berrou ele, emocionado. ―Como que amarelo? Já estás delirando da fame que tes, misterioso cavalheiro! ―Ali, Ali, Ali!! Vamos! Vamos! Insistia, sinalando aló ao longe. Efectivamente, a dez metros mais para aqui do horizonte, viam-se umhas luzes amarelas e vermelhas. Pensei se seria umha manifacha e assustou-me a ideia de que o cavalheiro misterioso fosse um participante habitual deste tipo de eventos. Era certo que polo pouco trânsito de neuronas que circulavam no interior da sua cabeça, encaixaria perfeitamente entre a fauna que os frequenta. Colheu-me da mao e tirou de mim, rumo ao horizonte… o misterioso cavalheiro estava entusiasmado, os seus bigodes faziam como fam os rabos dos cans quando estám felizes e eu cada vez mais assustada, fazendo-me a ideia de que me levava com todo aquel facherio râncio que tam envalentonado estava ultimamente. Fomos achegando-nos e conseguim distinguir que aquelas luzes vermelhas e amarelas nom eran as temidas bandeiras, já puidem respirar tranquila. Era a luz do letreiro dumha famosa hamburgueseria, era a letra M, em amarelo sobre um fundo vermelho, era a famosa hamburguesaria Merdonals. Este local tinha um horário interrompido e serviço a domicilio. Disponhiam de cinco vespinos nos que carrexavam aquelas hamburguesas a qualquer parte do mundo em menos de vinte e quatro horas. Fomos achegando-nos à zona de pedidos e de ali saia umha fumareda com cheirume a carnufada e fritanga irresistível. Atendeu-nos umha rapariga com viseira que comia chicle: -Oli guapis! Que vai ser? Se queredes a Burguikinismiz Macario com sete quilos de cachelos e dous litros de Barrantes, está de promo… 150 euros… olho que a oferta caduca em oito minutos e a hamburguesa caducou fai duas semanas! ―E por cinco euros… que nos podes dar? Perguntei eu, um pouco envergonhada. ―Por cinco euros tes um sobre de kétchup, um chupito de merdicola e o chicle que estou comendo… Dei-lhe os cinco euros, deu-me os tres pratos combinados e o bigode do misterioso cavalheiro fixo como fam as línguas das iguanas quando caçam umha mosca… zuuup! E papou todo. A melancolia e a fame a partes iguais invadiu o meu interior… a noite mágica estava indo-se ao caralho. O misterioso cavalheiro, abraçou-me. Nesse momento chegou, todo fostiado, um vespino com o seu vespineiro com um capacete de vidro afumado e falou-lhe à dependenta da viseira: ―Que temos por aí? ―A ver, guapi… tes que levar umha Burguikinismiz Macario a… Oleghario Smith que vive em… Street de Abaixo namberchú, Londres! ―Ok! Pois vou encher o deposito e acender as antinevoa, entom. Nunca fum a Londres! Pensei eu em voz alta. ―Londres!? Onde está Londres? É a capital de Portugal, nom? Perguntou-me o sábio e misterioso cavalheiro. O vespineiro escoitou-no, deu-lhe o riso e falou-me: ―Queredes vir? Assi ides dando-me conversa que o friki este promete… vaia fenómeno! ―Siiiii! A Portugal, a comprar toalhas!! Vamos! Vamos, porfa! Subimos ao vespino. O vespineiro diante, eu no meio e o cavalheiro misterioso, atrás com a Burguikinismiz Macario, no colo. Acendeu a maquinária e saímos derrapando. Foi-nos contando a sua vida, lembrava o que comera cada dia desde que nasceu, contou-nos que o vespino estava trucado e por isso tinha tanta força que tinha o motor de um Land Rover. O cabrom nom parava de falar e isso que fora ele o que queria que nós lhe deramos conversa. Fomos metendo-nos na espessa névoa que era tam espessa que ademais de nom deixar-nos ver, tampouco deixava mover o vespino, pois formava umha espécie de parede que aquela máquina trucada nom era quem de atravessar. O vespineiro detivo o vespino. Nom se via nada. ―Que bonito é Londres! Onde podo comprar as toalhas? Perguntou o misterioso cavalheiro. Entre a névoa vimos a sombra de umha figura humana. Eu pensei se seria o sereno de Londres. O vespineiro falou-lhe: ―Ghelou! Ghouaryú? Ai am a vespineiro man. Yu nou a Oleghario Smith? Dis is yu Burguikinismiz Macario! Yu anderstan mi?? Wuer is de Street dabaixo? ―Que bem falas o português! Senhor, onde podo comprar toalhas? Voltou consultar, insistente o cavalheiro misterioso. A sombra, por fim, falou: -E logho, vos de quem vides sendo,oh? [ Continúa mañá ]