O relato de verán: O misterioso cavalheiro (I)

Pedim um churro e um café e com o churro, dei-lhe voltas ao café no mesmo sentido em que dam voltas as agulhas do relógio… Quando estou triste sempre fago isto, parece-me que o tempo, o mal tempo, vai passar mais rápido. O camareiro deveu-se dar conta da minha melancolia e ofereceu-me aguardente. ―Queres ghotas, rapasa? Eh? Queres ghotas, mecaghonoghlorio? Perguntou-me e eu digem-lhe que nom com a cabeça, movendo esta de arriba para abaixo em sentido vertical e o camareiro botou-mas igual. ―Som ghotas milaghrosas, rapasa! Nom che fam mal, oh! E três pingas botou. Umha… duas… e… três! E efectiva e magicamente, aconteceu o milagre! A escuma do café começou a rebulir, fazendo bailar o churro, como dançam as dançarinas das caixinhas de música, mentres arrancava a soar a quinta sinfonia para violino e charrasco de Chaichosky, entom, pola beira da cunquinha, arrancou a nascer um regato de escuma… como umha minhoca longa e elástica que avançou e avançou lentamente pola cima da mesa, depois baixou por umha das quatro patas e chegou ao cham e seguiu polo cham, cham, cham e chegou à outra pata das quatro patas de outra mesa e subiu por essa e chegou à cima da mesa e avançou por essa e foi bater, no momento exacto em que rematava a quinta sinfonia com um pratilhaço, contra o dedo pequeno dumha enorme mao. O dono do dedo e da mao era ele… o misterioso cavalheiro. A cabeça do misterioso cavalheiro era pelada por acima e peluda polos bordes, estava habitada por abundantes piolhos que saltavam pola parte pelada a modo de coreografia bem sincronizada. Levava anti-face de leopardo, por isso era misterioso, bigode daliniano longo e roscado, chaqueta americana e gravata, por isso era cavalheiro, da cintura para abaixo, ia completamente em bolas, nos pés umhas zocas. Olhava-me firmemente e deu-me a impressom de que levava horas olhando-me dessa maneira… parecia umha estátua, umha espécie de David de Michelangelo. Fumava cachimbo, pese a ser proibido no local e do cachimbo saiam pompas de xabrom, pompas de diferentes cores e tamanhos, umha delas, a verde esperança, véu voando polo ar do bar… até chegar ao meu focinho e ao bater nele… estalou… pumba!! Desprendendo o som doutro pratilhaço, a chuva dumha espécie de pó de estrelas e um arrecendo fantástico e cautivador, mistura de Varón Dandy, Mistol e chipirons fritidos fai vinte dias… fechei suavemente os olhos e inspirei fundamente, desfrutando ao máximo do mágico momento como se fosse todo um maravilhoso sonho ao que queria aferrar-me todo o tempo possível. Entom o misterioso cavalheiro, lançou-me um sonoro beijo e o beijo saiu a toda hóstia da sua boca mas nom apontou bem e foi-lhe dar à porta do banho, furou-na como se fosse um cartuchaço e derreteu-se o verniz, do interior do banho, polos furados recém feitos, saiu umha voz encabronada berrando: ―Estou cagando, hóstia!! Entom eu, emocionadamente e como resposta, lancei-lhe ao cavalheiro misterioso um esbirro bem cargado, umha flema com sabor a moco velho e café. Apontei bem e dei-lhe no daliniano bigode e entom este, o bigode daliniano, fijo como fam as línguas das iguanas quando caçam umha mosca e fluap!! Papou todo! Relambeu-se, chiscou-me um olho e arroutou. Prestou-lhe. Adoro a gente que nom é repunantinha à hora de comer. Suponho que com tanto cuspido cruzado, invocamos a Cupido e namorei! Entom eu sentim-me feliz e alegre e quando me sinto alegre e feliz dam-me ganhas de dançar a moinheira! Com este subidom botei um aturujo e outra flema, dei um chimpo grande e arranquei-me a dançar e cantar a moinheira: ―Arrastra-ches o cu polas palhas, e figeche-la cama no cham e molha-ches a berberechinha que a tinhas sequinha do verám E assim dançando, cantando e tropeçando com quanto encontrei ao meu passo fum chegando onde a ele, onde o misterioso cavalheiro. E quando me encontrei frente a frente com o cavalheiro misterioso, olhei ao que se via dos seus olhos vermelhos que assomavam estrábicos polos furados do anti-face, procurei no banco de sons do meu coraçom, o meu registo bocal mais sensual e suavemente perguntei-lhe: ―Como te chamas? El nom entendeu a pergunta. ―Eh!? Nom entendo a pergunta... eh! Que? Nom entendo a pergunta que me fas! Pensei que era um problema auditivo, talvez provocado pola goma do antiface que lhe apertava as orelhas dobrando-lhas para adiante, taponando os furados por onde entra o som. [ Continúa mañá ]