Moncho Valcarce: Trinta anos

No passado fevereiro fizeram-se 30 anos do passamento de Moncho Valcarce (5 de setembro de 1935 - 1 de fevereiro de 1993). Para muitos era mais conhecido como "o cura das Encrovas", pela sua participação e mesmo protagonismo nessa memorável luta labrega, junto com um facho de afoutos labregos e labregas. Ainda que não era de ali, mas cura de Sésamo, convertera a casa reitoral numa comuna, às vezes vigiada pela polícia. Foi um cura "atípico", um cura "épico" e um cura "de combate", com palavras de Ramón Muñiz, que foi até o seu passamento o presidente da Irmandade Moncho Valcarce, criada para manter e avivecer a sua memória. O seu foi um compromisso revolucionário que o levou a viver a sua fé cristã com um ativismo social e político, integrando-se nas organizações nacionalistas, sem deixar o seu labor paroquial evangelizador ao lado da gente humilde. Uma cruz e a bandeira galega com a estrela eram os seus símbolos, sempre presentes na igreja de Sésamo. Moncho Valcarce foi um cura, um militante político e um místico A pouco do seu passamento, escrevi um artigo para uma publicação de Madrid titulado Moncho Valcarce, el último cura comunista. Desde aquela tenho dito e escrito repetidamente que Moncho foi um cura, um militante político e um místico; realidades vividas harmonicamente, apesar dos conflitos. Ele próprio escrevera-o nos seus diários, que publicamos há uns anos (Moncho Valcarce. Un símbolo para Galiza. Diarios inéditos e outros textos, A Corunha, 2010):"O cristianismo non é unha ideoloxía cuxa función sexa… asegurar a estabilidade do orde político-social... Xesús estaba contra o orde establecido e nada quixo saber dos 'líderes' relixiosos que adormecían ao pobo oprimido... A súa misión segue onde a lingua e a cultura dun pobo é encadeada, cando non o deixan ser protagonista da súa historia... cando rompemos cunhas normas morais-relixiosas e socioeconómicas convencionais, para estar onda Deus e os homes na acción liberadora. A miña fe empúrrame a concienciar ao pobo para que todos academos a liberación", (Caderno de Poio). Ou como escreveu anos depois noutro dos seus diários: "Vexo a miña misión como crego tal como a realicei… o que supuxo e supón cadeas, golpes, torturas e moito medo e desgustos", (Diario de Exercicios Espirituais en Pontedeume). Sempre me impressiona reler e compartir os seus textos; desde o estarrecedor diário da sua enfermidade (Moncho Valcarce Revolucionario e místico. Diario íntimo da doenza final, Compostela, 1994) até o livro aqui citado. Guia e exemplo Porém, hoje quero trazer a esta página, especialmente, a pervivência da sua memória três décadas após o seu passamento. Memória mantida pelos seus amigos e vizinhos de Sésamo, as Encrobas e As Pontes, onde esteve a sua derradeira etapa; e também por militantes nacionalistas e do povo galego, que o converteu num símbolo, numa referência do compromisso por uma Galiza libertada; reconhecendo nele, como diziam as notas necrológicas naquele fevereiro de 1993, "um dos imprescindíveis", "guía de xentes e exemplo dás xeracións". O seu companheiro em Roma, o académico Xesús Ferro Ruibal, escrevera: "Por uns anos vai resultar incómodo falar de ti, porque os santos deixades feridas na conciencia que tardan en curar". Mas, sobretudo, uma memória mantida teimosamente pela Irmandade Moncho Valcarce; que soube nestas décadas recolher, espalhar e editar a memória de Moncho em varias publicações; analisar e sensibilizar o povo desde a sua memória e a sua mensagem. E também mantê-la viva com homenagens; entre os quais destacaram as ceias na memória de Moncho, que foram durante 25 anos um grande evento pela participação da gente e a qualidade dos participantes; amigos e gentes dos povos, mas também gente relevante do mundo da cultura e da política. Alguns deles, personagens e coletivos, foram homenageados com os Prémios Moncho Valcarce, recolhidos na sua web com ampla memória gráfica. Depois de anos de silêncio após os 25 anos e o os obrigados pela pandemia, a Irmandade renovou-se com novos membros, ademais da obrigada mudança de presidente após o passamento de Ramón Muñiz, tomando Xácome Gayoso o seu relevo, e quer volver a estar ativa na sociedade galega, começando por uma nova convocatória da tradicional ceia, convertida nesta ocasião numa comida. Será o sábado 10 deste mês, às 2 da tarde, novamente em A Corunha, no Hotel Plaza. Cumpre anotar-se e fazer reserva prévia. Nela entregara-se o Prémio Moncho Valcarce pela Defensa e a Promoção da Terra à Agrupação Cultural Alexandre Bóveda. Moncho vive!