Entrevistamos Alonso Caxade

“A indústria musical? Não existe”

E isto é o amor (Discos da Máquina, 2016) é o segundo álbum de Caxade, depois do sucesso d’A dança das moscas, (Discos da Máquina, 2013), a renovação da música galega mais popular. Em E isto é o amor encontramos sons doces, minimalistas, que se movimentam entre o indie, o folk e o jazz, e onde os ventos, o acordeão, a percussão e os sintetizadores criam ritmos que têm o seu cerne na música tradicional galega, indissociável a Caxade. Eles são Alonso Caxade, voz e acordeão; Manu Espinho, bombardino; Manu Paino, trompeta e carillón; e Xosé Tunhas, bateria. Eis um extracto da conversa publicada no Sermos 269.

[Imaxe: cedida] Alonso Caxade
photo_camera [Imaxe: cedida] Alonso Caxade

2Caxade tem um som próprio, uma estética reconhecível. Como nasce o projecto?

A verdade é que eu venho de formar parte de muitas agrupações: venho de tocar música tradicional numa banda de gaitas que havia na escola do concelho de Ames, a qual mais tarde seria a banda de gaitas e a escola de música tradicional Os Castros e com a que estive vinculado durante muitos anos; criei vários grupos folk; estudei no conservatório o acordeão; fui um músico frustrado das bandas de música, ás que nunca pude chegar porque nem com a gaita de fole nem com o acordeão me é possível tocar numa banda de música, não sendo como solista, mas não no espaço habitual; estudei jazz uma temporada… Eu creio que é uma mistura de todos estes estilos diferentes, somado a uma moda que chegou a mim nos últimos dez ou doce anos, a das orquestras de princípios de século XX. Tanto essa estética visual, sonora, o feito de como se preparava a cena e como se preparava o áudio para vestir essa cena. Acho que todos esses ingredientes cozeram esse estilo Caxade. Muitas vezes não sei dizer qual é a linha reta que me levou a fazer esta música, mas o que si vejo é que há muitas influências. A minha querença é a impossibilidade de despegar-me da música tradicional, que está permanente e é visível no fato das orquestras e as músicas de moda, que se toque bailável; o feito de ter eu investigado noutras músicas mais modernas ou mais contemporáneas. Acho que é esse o efeito desse som próprio que cometavas.

Desde o teu ponto de vista, qual é a situação da indústria musical galega?

É inexistente, não há uma indústria musical galega. Realmente se a há, é para as orquestras de músicas de moda. A indústria musical galega não existe, falar dela é falar do que possa existir ao melhor no futuro, mas não há uma cultura musical galega e, por tanto, não há uma indústria musical galega. Viver de dar concertos é muito complicado. Que possam sobreviver alguns projectos galegos, feitos em Galiza e em galego, não é sintoma de que a cultura musical possa sobreviver ou de que exista. Falamos de que um sector sobrevive quando há pessoas que vivem disso, a carpintaria sobrevive quando há muitas pessoas que trabalham da carpintaria. Na música não é certo, há muitas pessoas que podem sobreviver trampeando dando aulas, sendo director numa banda de música, ao mesmo tempo dando aulas no conservatório, numa associação cultural, e tocando de quando em vez no cenário. O fato de que um carpinteiro dê formação em carpintaria está indirectamente relacionado com a sua profissão que é fazer móbeis. O trabalho de um músico é dar concertos, o trabalho de um mestre é aprender, mas os mestres músicos são uma empanada social que não tem mais explicação que uma questão económica. A indústria musical? Não existe.

[Podes ler a entrevista íntegra no Sermos Galiza 269, á venda na loxa e nos quiosques habituais]