Caxade: Rebeliom no CulturGal

"O resultado do trabalho conjunto Caxade-Banda de Música da Bandeira é simplesmente brilhante", defende o director da Banda de Música de Burela, Roberto Bouça nesta crónica do concerto especial do sábado no Culturgal. 

Concerto de Caxade e a Banda de Bandeira
photo_camera Concerto de Caxade e a Banda de Bandeira

Certamente fum pola curiosidade, por ver o resultado da proposta. Aguardava o concerto com espectaçom e -confesso- certo ceticismo, mas aos poucos de tomar assento no Paço da Cultura de Ponte Vedra e ver o palco preparado para atuarem por volta de 60 pessoas, aginha reparei que o que ali ia acontecer nom ia ser qualquer cousa e que nom havia deixar-me indiferente. As senhoras que sentarom ao meu lado encarregarom-se de confirmar-me a magnitude do que ali ia acontecer: “Estám ali acima os de Merça. Estamos os da Terra da Música”, comentarom.

"O resultado do trabalho conjunto Caxade-Banda de Música da Bandeira é simplesmente brilhante"

Desligou-se a luz na plateia e começou a soar o chifre do afiador Alonso Caxade ecoando na trompete do grande Manu, o Paino “pequeno”. Toque de partida e aviso a todos os afiadores e afiadoras presentes, com arrecendo à tradiçom musical galega que Alan Lomax “fotografou” alá polo 52 e que Miles Davis reutilizaria e fusionaria em 1959. Tradiçom e inovaçom; passado, presente e futuro como metáfora e fio condutor de um concerto redondo em todos os sentidos.

Reconheço que o indie, ou “indie-folque” como se auto-define o próprio projeto Caxade, nom está entre as minhas preferências musicais por umha simples questom de gosto pessoal, mas o resultado do trabalho conjunto Caxade-Banda de Música da Bandeira é simplesmente brilhante. Equilibrio perfeito entre a banda Caxade (quarteto com certo ar às bandas de música populares galegas. Acordiom: Alonso Caxade; trompete: Manu Paino; bombardino: Manu Espinho e bateria: Xosé Tunhas) e a Banda da Bandeira, na linha das melhores bandas de corte sinfónico do País, com umha riquíssima presença das distintas cordas instrumentais.

"Para além do estritamente musical, a proposta Caxade-Banda da Bandeira, consegue achegar músicas díspares a públicos diversos e aí acho que reside a grande virtude desta fusom". 

A destacar o excelente trabalho nos arranjos e orquestraçom que integram à perfeiçom à Banda num estilo musical que nom lhe é próprio, com um papel nada fácil a nível interpretativo e que os músicos e músicas da Bandeira desenvolverom com maestria. A adaptaçom de músicas de corte popular para umha formaçom como umha banda nom sempre tem o resultado aguardado, mas neste caso, as linhas melódicas adquirem umha nova cor graças ao papel da banda, num tratamento de soporte harmónico principalmente, dentro de umha textura sinfónica de melodia acompanhada, dando maior protagonismo aos temas que conformam “A Dança dos Moscas” e por vezes partilhando também protagonismo com as melodias de acordiom e trompete. Pôr em destaque a assombrosa profissionalidade de toda a banda e do seu condutor, o maestro Miguel Rodríguez Barrio, assim como do excelente trabalho dos técnicos de som que conseguirom umha acústica impecável. 

Este tipo de propostas conjuntas de agrupaçons de corte folque com bandas de música, nom som novas e já forom ensaiadas no seu dia polo magistral “Banda Band” (2007) dos Oskorri com a Banda Municipal de Música de Bilbau ou máis recentemente aquí na Galiza o projeto “O Tambor de Prata” de Vaamonde, Lamas & Romero com a Banda Municipal da Corunha, em 2011. Um caminho que parece que vai ganhando espaço dentro do repertório das bandas de música.

Para além do estritamente musical, a proposta Caxade-Banda da Bandeira, consegue achegar músicas díspares a públicos diversos e aí acho que reside a grande virtude desta fusom. Achegar umha ampla pluralidade de gostos musicais e reunir num mesmo concerto um público heterogéneo e que dificilmente acudiria a umha actuaçom em solitário de umha das partes. O resultado: valorizar as “outras” músicas que nom formam parte da nossa fonoteca particular, em definitiva, umha proposta com sucesso assegurado.

O concerto nom dececionou e com certeza que nom deixou indiferente a ninguém. Caxade foi capaz de ir aquecendo a pouco e pouco o auditório, dando “calor aos pés, prendendo lume no peito até pôr as cabeças a ferver”. Foi quem de escorrentar “os moscas” e tirar muitas “potas” das nossas cabeças. Porque “A Dança dos Moscas” vai mais além do musical. As letras, de “caráter claramente reivindicativo, irónico e metafórico” procuram romper com a “crise intelectual” que tanto interessa à “gente pota”. Muito de agradecer também o uso consequente e desacomplexado do idioma, valorizando nom só a norma mas tamém o sotaque comum. 

O público começou a bater palmas ao som do “Foliom da Rebeliom” e entregou-se já erguido numha salva de palmas final que fijo tremer o CulturGal. Ainda houvo tempo para mais umha, para pôr fim a um concerto de 10 e que com  certaza há de dar num disco de 10.


Roberto Bouça
Director da Banda de Música de Burela

Comentarios