"Achamos que é uma história que guarda as claves da realidade atual do nosso país"

Em breve começa a campanha de crowdfunding para Ricardo Carvalho Calero. Coraçom de Terra, que se realizará desde a plataforma Verkami. 'Coraçom de terra' é uma biografia ficcional que repassa a vida e a obra do autor homenageado no Dia das Letras. A proposta, ao cuidado de Demo Editorial e da Através Editora, é uma novela gráfica feita por Xico Paradelo e Iván Suárez. Conversamos com Xico Paradelo para saber mais pormenores desta nova iniciativa.  
carvalho

Que encontraremos nesta novela sobre Calero?

É uma novela que nos conta certos momentos pontuais da linha biográfica de Ricardo Carvalho Calero, mas nem tudo o que se narra é realista. Escolhemos seis momentos da sua vida. Nós decidimos aplicar a própria estrutura que ele utilizou quando fez Scórpio, que é fazer como uma história autobiográfica com elementos fantásticos ou elementos não reais. Imaginamos e inventamos as aventuras de Ricardo como criança em Ferrol, um dia de passeio com os seus amigos galeguistas em Compostela, no Seminário. É uma banda desenhada em que se contam várias histórias, não é uma biografia rigorosa, mais sim uma forma de visualizar como foi essa vida. Arranca com uma pergunta, que teria acontecido se Ricardo Calero não tivesse morto, se Alexandre Bóveda, Castelao ou Otero conseguissem levar adiante essas ideias, se o Estatuto da Galiza fosse aprovado. Onde o galeguismo pudesse ter o seu programa. Partimos de aí, para visualizar algo que ele diz, que o futuro tem que ser corrigido. E ele e a sua geração viam um futuro que não é este no que estamos pelo golpe de Estado de Franco.

Com este crowdfunding que se procura?

É, por um lado, para dar a conhecer esta obra a aquelas pessoas que estejam interessadas, dar ofertas e prémios e, por outro, para poder garantir uma edição com um certo nível e um número de exemplares, que dependerão também do apoio que tenhamos. É um labor de equipa onde se unem muitas pessoas, com muito trabalho de documentaçãocom duas editorias, e esperamos que abra um novo campo, somar esforços. A história de Carvalho está segmentada, de momento. Levamos mais de um ano trabalhando nisto e esperamos que agrade esta aposta.

Que nos pode adiantar dos desenhos da novela?

Os desenhos são de Iván Suárez, a sua obra foi reconhecida com diversos prémios. Tem um desenho dinâmico e contundente, com uma narrativa muito gráfica e visual, que nos leva até esse passado, o Ferrol dos anos 30. Tudo com uma qualidade gráfica enorme, fácil de entender e compreender, a qualidade gráfica é grande. É uma história complicada porque Carvalho é um intelectual, a acção é a justa. Trata-se mais de debate intelectual, mas achamos que é uma história que guarda as claves da realidade atual do nosso país, que explica por que temos hoje estes encontros e desencontros. Precisamos transitar por esse outro caminho que ele abriu e se para algo podem servir as letras este ano é para caminharmos por outras sendas. Esperamos que se celebre como se merece, Carvalho Calero é um fundamental.

Quais são as condições da literatura gráfica na Galiza?

Temos duas faces. Temos uma banda desenhada que sempre se revelou como uma das mais criativas e das mais potentes a nível ibérico. E por outro lado temos falta absoluta tanto de mercado como de promoção ou de apoio dos setores públicos. Por tanto, é uma banda desenhada muito fraca, os desenhadores não podem desenvolver os seus labores. Temos poucos desenhadores profissionais e poucos autores e autoras profissionais por isso, porque não há um mercado como na França ou nos Estados Unidos. Aqui trabalhamos para fora porque os autores e autoras galegas cada vez apresentam uma qualidade maior. Isto vem de um processo permanente, já desde os anos setenta e oitenta deu lugar a ter uma geração de altíssimo nível, com muito prestígio. Temos a única escola, Garaxe Hermético de Pontevedra. Acontece como com tudo neste país, temos talento, mão-de-obra, material, mas falta o investimento público que nos permita consolidar este setor.  

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