Sacha na Horta: ''Nom é normal que conheçamos mais grupos de fóra que de dentro ou que a radio pública emita mais música em espanhol que na nossa lingua''

Veio o bom tempo... chegou a hora! Sachas ao lombo, luvas nas mãos, botas de goma nos pés... @s de Compostela (porque a vaca não é de onde nasce) vêm com ânsia de semear a revoluçom musical. Quisemos saber como lhes vai na leira

photo_camera [Imaxes cedidas]


A cadela Maca na horta, olhando uma bola do mundo. É a primeira imagem que tivemos de vocês.

Corria o verao de 2007, eramos jovens e atolondradas! (risos) A imagem que daquela empregamos segue o padrom do grupo naquela altura: criaçom a base de arroutada e com o objectivo fundamental de desfrutar fazendo 'cousas bonitas', que nos encheram o peito e puxesem um sorriso nos beiços. Sem mais.

Mas, mirando-a com perspectiva, se calhar di mais de nós do que pensabamos. Maca, um membro mais da grande familia que se foi criando em torno à 'Casa do sol', a velha casinha da Rúa das Hortas em Compostela que partilhamos várias das componhentes originais da banda. Maca, coma nós, contemplando o mundo desde a tranquilidade da horta, imaginando outros espaços, sonhando realidades possíveis, desfrutando do calor humano a pesar da chuva, alheia ao ruido dos carros, aos turistas...

"No primeiro concerto, em Cuba, deixamos constáncia do som da gaita galega no malecom da Habana!"

Deveu gostar porque junto com o primeiro tema que compuxemos, Biocultivos, inspirado nesse clima (aínda que chova aqui vai calor!) fixonos ganhar, dum jeito totalmente inesperado, o concurso A Polo Ghit. De aí nasceu a banda. Até daquela eramos só umhas amigas brincando e deixando voar a imaginaçom, a música e o que nos saía de dentro.

Grupo galego que canta em galego, deram-se a conhecer fora, em Cuba. Que lembram daquela experiência?

Buf! Um feixe de cousas! Foi umha experiência moi intensa! Para começar, foi inesperada. Ainda havendo músicos profissionais na banda quase seguro que ningum de nós esperabamos acabar tocando na Feira do Livro da Habana como membros do país convidado. Foi todo um regalo poder partilhar a experiência entre nós e com outras artistas galegas, à margem de polémicas sobre os orçamentos do evento e demais.

Por outro lado, poder achegarnos a umha realidade como a cubana. Coincidiu ademais com o traspasso de poderes de Fidel ao irmao. Conhecimos pessoas que nos fixerom entender um pouco melhor a súa realidade e deixamos constáncia do som da gaita galega no malecom da Habana (risos) Mas, para alem disso, nom foi o nosso melhor concerto. A parróquia estaba mais interesada no baile que tinham organizado no centro cívico no que tocamos no que na agropatchanka das sachadoras galegas... (risos) Nom estaria mal volver a ver se agora convencemos mais! (moitos risos) 

"Nas letras nom falamos doutras cousas que as que nos passam pola cabeça e de como as vivemos"

Por que sobem ao palco em bata de faena?

Bata por fóra, mulher por dentro. Para nós a bata é todo um símbolo de identidade. Umha prenda que nos conecta com as nossas nais, tias, avoas... com as mulheres que admiramos, com as obreiras, com as labregas. Umha prenda que nos fala da dignidade das mulheres que sostenhem o mundo com os seus coidados, com os seus saberes, com o seu trabalho.

As primeiras que usamos eram de licra e coloridas, quase traje de festa para nós, num intento de reapropiarnos desse símbolo e resignificalo engadindo-lhe a todo isso que nos transmite o gozar da música, de ter a palabra e difundila, de festexar com outras, de levalo a outros contextos. 

Nesta nova xeira continuamos com as batas, mais agora, graças à nossa amiga e modista Marta, remedadas para fazer fronte ao trabalho que require a violência dos tempos duros que vivemos.

Militantes pela língua, os feminismos, o agroecoloxismo... quanto há de retranca e quanto de reivindicaçom na sua música?

Pois como nas nossas vidas, suponhemos. Nas letras nom falamos doutras cousas que as que nos passam pola cabeça e de como as vivemos. O patriarcado sufrimo-lo, todas, a diario, o espólio dos recursos naturais, a falha de soberania alimentaria, a hegemonia e imperialismo culturais, etc, etc. etc... um longo etc!

"É preciso, oponher-se, a confrontaçom, mas também construir em positivo. Rebeldia com alegria"

Se nas nossas dinámicas diarias intentamos introducir prácticas para mudá-las assim o partilhamos nas letras que cantamos. Mas, como na vida, tentamo-lo facer, se nom em clave positiva, si com um toque de humor, sem machucar-nos mais da conta.  

É preciso, oponher-se, a confrontaçom, mas também construir em positivo. Rebeldia com alegria, que dizia a outra. Se nom podemos bailar nom é a nossa revoluçom!

De ativismo vão servidas! Que tal se manejam com a sacha?

Pois nom temos duda, a verdade (moitos risos) E ademais temos bom lombo! A pesar de que moitas vivemos na vila, quem nom cultiva horta na sua casa tem raices na aldeia. Somos filhas do rural, como a grande parte da sociedade galega.

Primeiro foi o nome do grupo, mais o certo é que pouco a pouco imos dando passos cara a volta ao rural. Volvendo à casa da aldeia, começando a trabalhar com abelhas ou participando do sindicalismo agrario.

Medram muito as más ervas na leira musical galega?

Está inzada! E de pesticidas, transgênicos, producçom intensiva, dependência das subvençons...! Já nom sabemos se falamos do agro ou da música (risos)

Na música, como noutros sectores produtivos galegos, faltam meios para que a gente nova se poida incorporar com garantias, apoios públicos, amor propio... e para trocar ou vender o teu produto dignamente. É moi dificil viver ao 100% da música. A norma dos grupos galegos é eslombar-se a trabalhar, moitas veces em precário como a maioría, para poder logo financiar e sacar tempo de ensaiar, gravar, ir aos bolos...

A falha de apoios também se nota na difussom, que malamente e com moitos esforzos se vai compensando autogerindo-nos a través das posibilidades que ofrece Internet. O que nom é normal é que conheçamos mais grupos de fóra que de dentro do país ou que a radio pública na súa canle musical emita mais música em espanhol que na nossa lingua... Em fim, som só algúns ejemplos. 

"Quantas mulheres na musica galega tocam punk, ska, heavy, rap? O normal é tirar por estilos nos que nos encorsetarom"

Por que custa tanto encontrar mulheres?

Buf! Questom complexa também. Pensamos que nom deixa de ser outra das consequências do capitalismo patriarcal que rege a nossa sociedade. Igual que che dam umha boneca para brincar, a maioria das veces nom che ponhem um baixo ou um saxo na mao. Nom combinas com as amigas para ensaiar polas tardes (tampouco tes moito onde), educam-nos para andar preocupadas doutras cousas.

De fazê-lo moitas vezer acabas (por casualidade?) cantando ou tocando estilos nos que nos encorsetarom... Quantas mulheres na musica galega tocam punk, ska, heavy, rap? O normal é tirar por outros géneros.

E logo o tema da autoestima. Chantar-te fronte o público superando medos, inseguridades... tamben lhes pasará aos homens, mas eles vam com outro rolho, mais despreocupados. Pensemos numha xuntança, de vecinhos ou política, e em como se expresam eles. A maioria das mulheres calamos moitas veces, a pesar de que nos ferva o peito. Eles tenhem menos reparo em dizer o que pensam, mesmo parvalhadas, gostam mais de ouvir-se. Bom, se calhar algum nom concorda ou nom gosta de ouvi-lo, mas ai fica isso para a reflexom.

"Temos claro é que a nossa lingua é internacional. E a nossa música, também"

Busco amante galego-falante: há que se posicionar por uma norma ou é suficiente com perpetuar a nossa língua?

O nosso compromiso é com a nossa lingua. Se vem no plano individual moitas militamos no reintegracionismo, a realidade é que como banda nos aliamos com todas aquelas pessoas que defendem de maneira radical a nossa lingua própria e no grupo nunca supuxo nengum problema a escolha normativa. Fica à vontade de quem escreve, sem mais.

Podemos dizer que partilhamos a opiniom do Carlos Calvo, companheiro generoso e lúcido, secuestrado pola maquinaria represiva do Estado espanhol, quando di no seu artigo Por umha nova aliança pola língua que "Ora 'galiña', ora 'galinha', temos duas formas de que nom nos obriguem a dizer 'gallina'". É preciso construir alianças. Já o dizemos sempre: temos moito que sachar! E todas somos necessárias. O que temos claro é que a nossa lingua é internacional. E a nossa música, também.

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